Um amigo procurou Sócrates e queria contar algo sobre alguém. O filósofo, gênio do diálogo e da ironia, que prezava acima de tudo o conhecimento e a ética, pediu então que o amigo, antes de contar, submetesse a novidade a um filtro triplo: o que se vai contar é verdadeiro? O que se vai contar tem bondade, isto é, é algo bom para o outro? Terceiro: a necessidade – o que se vai contar é necessário, útil, melhora alguma coisa? O amigo viu então que sua novidade não passaria pelo teste. Se não é certo, nem bom, nem útil, para que contar? – concluiu Sócrates.
Isso vale muito como orientação aos profissionais. O que ele fala traz conseqüências sempre: para si mesmo, para outras pessoas, para a organização. Assim sendo, é bom pensar e refletir antes de falar e, principalmente, aprender a controlar a língua, a compulsão de falar por impulso, por ansiedade, por diversão inconseqüente, por maldade.
Falando o que não se devia
Tudo ia muito bem na entrevista de emprego. De repente, o candidato descontrai-se, fica um pouco mais à vontade, entusiasma-se e faz um comentário desnecessário ou inconseqüente. Imperceptivelmente, uma força negativa começa a operar contra ele. Vejamos:
· Ele critica “disfarçadamente” o ex-chefe, insinuando que ele não era de “pôr a mão na massa” – A primeira coisa que o entrevistador pensa é: será que isso é verdade? O candidato naturalmente não sabe; logo, sua opinião não reflete algo que passaria pelo primeiro filtro. Fofoca não é coisa de gente séria! Verdade duvidosa, informação que não é para o bem, e que é absolutamente inútil. Por que falar?
· Ele insinuou que a diretoria da empresa de que veio é incompetente – Opinião, não fato. Isso vem para o bem, é útil? Acontece que esta empresa tem forte relacionamento com aquela e detestaria ter em um posto de comando alguém que não mede as palavras. Ademais, o entrevistador também admira aquela empresa.
· Ele conta algo folclórico sobre a empresa anterior – Não houve maldade, mas a que vem essa informação? Embora verdadeira, não passa pelo segundo filtro, da bondade, aquilo não é algo que ajude de nenhum modo o ex-empregador. Também não passa pelo filtro da utilidade, evidentemente.
· Igualmente no dia-a-dia do trabalho é importante policiar a própria fala. Todo profissional é permanentemente avaliado no trabalho: pelos colegas, pelos subordinados, pelos superiores. Essa avaliação decorre de dois pontos principais: o que a pessoa faz e o que ela comunica. Tudo aquilo que se diz pode ter um peso importante presente ou futuro sobre a avaliação e sobre o que os outros farão em relação a quem comunicou.
Vejamos uma situação:
O profissional relata um fato incerto do passado que depõe contra um executivo de uma empresa concorrente – Com isso cria uma predisposição negativa contra o outro e leva colegas a insinuarem coisas (também inadequadamente) nas relações com os clientes. De repente, um colega deixa a empresa e vai trabalhar com aquele executivo caluniado e vê que aquela informação é completamente infundada. Telefona para os ex-pares e relata isso. A avaliação do caluniador pelos colegas e subordinados nunca mais será a mesma. Pode-se confiar em alguém assim?
Falas inadequadas
Há algumas falas típicas que comprometem a imagem de competência e profissionalismo que são essenciais para que a pessoa cresça na carreira. Considerando os filtros propostos por Sócrates, eis alguns exemplos de falas a serem evitadas:
O que não se sabe se é verdade:
· Aquilo que não se presenciou.
· Aquilo que se leu ou ouviu em fonte duvidosa.
· Aquilo que é mero fruto de opinião e não de constatação ou estudo sério.
O que não vem para o bem:
· Comentários maldosos sobre a aparência de terceiros.
· Comentários sobre fatos que depõem contra terceiros, que os expõem ao ridículo.
· Comentários sobre questões íntimas ou situações que só interessam aos outros.
· Críticas rancorosas e impensadas.
O que não é útil:
· Tudo o que se disse no item anterior.
· Quaisquer informações, comentários, opiniões infundadas ou inadequadas.
· Observações gratuitas que deixam as pessoas “para baixo”, nervosas, sentidas.
Como vigiar a própria fala
Pelo menos três regras devem ser consideradas pelo profissional que deseja policiar mais sua própria fala e, com isso, ampliar seu potencial de crescimento na carreira:
· Condicionar-se a pensar nos três filtros de Sócrates antes de falar sobre alguém, algum produto, alguma empresa, algum programa de terceiros: verdade, bondade, utilidade.
· Na necessidade de dar informação ou opinião sobre outros ou suas realizações, manter uma postura madura e responsável.
· Considerar que a fala negativa gratuita traz sempre prejuízos de imagem e potencialmente acarreta problemas de relacionamento.
· Controlar a compulsão de julgar e criticar, que usualmente é decorrente da arrogância, da frustração ou de problemas com a própria auto-estima.
Olhar no espelho é sempre um bom comportamento.
Ouvir mais e melhor e falar menos e melhor – eis uma boa regra. Aprender a falar menos, com sabedoria, é relevante. O profissional deve educar-se para que de sua boca saiam palavras que possam honrar sua reputação. E deve aprender a ouvir, para entender melhor e aceitar mais os outros. A melhora nessas habilidades fundamentais trará efeitos positivos tanto para sua imagem quanto para sua carreira.
Fonte: http://www.manager.com.br/reportagem/reportagem.php?id_reportagem=1225